Da série "Vovô é um barato"

Eu já falei para vocês sobre o meu avô, não é? (É retórico, não precisam responder.) Vovô, aquela doce criatura de 95 anos que acha que a abolição da escravatura foi uma grande bobagem. Pois é.
Dias desses, fui almoçar na casa dele com a família. Nós pedimos comida num restaurante natureba e tudo transcorreu com relativa tranqüilidade. No fim da refeição, estamos todos na cozinha ajudando a arrumar as coisas, quando minha mãe pergunta:
— Pai, no seu prédio fazem coleta seletiva de lixo?
— Hein?
— NO SEU PRÉDIO FAZEM COLETA SELETIVA DE LIXO?
— Ah. Fazem sim.

Aqui é bom abrir um parêntesis para os não-cariocas. No meu bairro e em alguns outros, a prefeitura instituiu a coleta seletiva de lixo obrigatória, o que na prática quer dizer que nós temos que separar o lixo reciclável do não-reciclável. Reciclável vem a ser papel, plástico e vidro, desde que limpos e não contaminados por material orgânico. Não reciclável é todo o resto. Mas, quando você tem 95 anos, você faz as suas próprias regras. Voltando ao diálogo:
— Então o que eu faço com isso? perguntou a minha mãe mostrando as embalagens onde a comida tinha vindo, toda suja dos restos.
— Joga aqui no lixo. Eles reciclam isso.
—Mas, Pai, isso está sujo.
— E qual é o problema?
— Eles não reciclam coisa suja.
— Então eles podem lavar. Era só o que faltava, eu ter que lavar pra eles. Daqui a pouco você vai querer que eu vá lá colocar as coisas na máquina de reciclar, ele respondeu, com um sorriso sarcástico.
E minha mãe jogou no lixo reciclável e ninguém falou mais no assunto.

Teoria da conspiração número 336

Desde que você é pequeno, todo mundo te diz para escovar os dentes, certo? E, corrija-me se eu estiver errada, escovar os dentes consiste em colocar aproximadamente um centímetro de pasta de dente numa escova e esfregá-la contra os dentes em movimentos circulares. Até aí, tudo bem, mas a minha questão é a seguinte: como é que você sabe que a sua pasta de dente está realmente funcionando? É só ligar a TV a qualquer hora do dia para dar de cara com um comercial de pasta de dente prometendo que vai te proteger de todos os problemas do mundo e te dar a felicidade eterna, mas não existe nenhum método prático para testar o bom funcionamento do produto. Você espera anos, se os seus dentes não caírem, funcionou. Aí você pode argumentar que um dentista sabe se a pasta está ou não agindo como deveria pela quantidade de cáries que você tem, e eu te pergunto: você já viu uma cárie? Sabe me descrever uma? Já foi ao dentista alguma vez sem que ele dissesse que você tem uma ou duas? Não? Sabe por quê? Porque cáries não existem. É tudo uma conspiração da indústria dentifrícia para fazer você gastar mais dinheiro com pasta de dente, assim eles podem continuar fazendo aqueles comerciais horrorosos com criancinhas pentelhas que querem salvar o mundo das cáries. Aliás, por que será que todo comercial de pasta de dente é horroroso? Vai ver tem alguma conspiração aí também.

Brógue do eu sozinho

Ah, a inestimável sensação de liberdade de ter um brógue que ninguém lê! Eu poderia escrever qualquer coisa, fazer revelações inconfessáveis, falar de assuntos irrelevantes, fazer ameaças terroristas que me colocariam na lista negra do FBI, entre outras gracinhas. Infelizmente, eu não tenho nenhuma revelação inconfessável nem ameaça terrorista para fazer, então sobram os assuntos irrelevantes e gracinhas genéricas, que são, afinal de contas, o ganha-pão desse negócio. Isso, e a foto da Xuxa pelada, é claro.
Se houvesse leitores aqui nesse momento, eu poderia até perguntar o que eles gostariam de ler hoje. Não que eles fossem responder, mas seria simpático de minha parte perguntar antes de completamente desconsiderar a opinião deles e fazer o que eu quiser, que é o que sempre faço no final.
Concluindo, para mim, não faz a menor diferença ter ou não ter leitores, então ninguém precisa ter muita pressa para voltar aqui não, ok? As coisas vão indo muito bem sem vocês.

"Quando Deus fecha uma porta, em algum lugar ele abre uma janela" - Fraulein Maria, a noviça saltitante

Uma das minhas livrarias preferidas, onde eu passei momentos cruciais do meu crescimento enquanto pessoa, virou uma loja de celular. E então, humildemente eu pergunto, CADÊ A PORRA DA MINHA JANELA, HEIN?